quinta-feira, 26 de novembro de 2015

ASSEMBLEIA QUER IMPEDIR CAPTAÇÃO DE ÁGUA DO RIO DOCE EM COLATINA


A Promotoria de Justiça de Colatina, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/ES), a Defensoria Pública do Estado e os conselhos regionais de Biologia (CRBio-2) e de Engenharia e Arquitetura (CREA), juntamente com a Comissão de Representação da Assembleia Legislativa, decidiram unir forças para solicitar à Justiça que impeça a liberação da água do rio Doce para consumo humano até que haja novos testes sobre a qualidade do produto. 

A decisão foi tomada na manhã desta quinta-feira (26) durante encontro na Promotoria de Colatina promovido pela Comissão de Representação instituída pela Ales para acompanhar os desdobramentos do caso que envolve a tragédia decorrente do rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG). 

O delegado do CRBio-2 no Espírito Santo, Edvaldo Peisino, advertiu que é “temerário” beber, fazer comida ou tomar banho com a água do rio Doce em Colatina porque a sociedade civil não dispõe de informações sobre os laudos elaborados pelo Laboratório Tommasi, de Vila Velha, que teria sido contratado pela prefeitura colatinense. 

A captação chegou a ser liberada no domingo (22) após um laudo apontar que seria possível realizar o tratamento, inclusive com o uso do produto extraído da acácia negra (Tanfloc), usado num processo acelerado de decantação, mas a coleta foi suspensa na noite do dia seguinte por causa da instabilidade da turbidez. Até essa quinta à tarde a captação estava suspensa e o Ministério Público decidiu ajuizar ação para que continue paralisada diante da insegurança dos colatinenses em fazer uso do produto. 

“Como biólogo e delegado do Conselho Regional de Biologia a preocupação maior é com a ausência desses laudos em mãos e sem saber também qual é o quantitativo de laudos que foram feitos”, ressaltou Peisino. 

De acordo com ele, a omissão de resultados causa um medo “muito grande” na população de ingerir elementos químicos pesados, entre eles mercúrio e arsênio. “A gente não sabe quantos laudos foram feitos, com que periodicidade, quais foram os parâmetros considerados. Sem essas informações o nosso juízo a respeito disso fica prejudicado”. 

O promotor de Justiça de Colatina, Marcelo Volpato, reforçou a afirmação do biólogo ao dizer que juridicamente o Ministério Público não está seguro em dizer se a população pode usar a água que se encontra misturada aos rejeitos da lama. “Todos os técnicos que contatamos apontaram para a necessidade de maior cautela. Eles nos disseram que uma analise minuciosa não pode ser feita simplesmente com base nas recomendações da Resolução 357 do Conama e da portaria 2914 do Ministério da Saúde que orientam os testes normais de água das estações de tratamento. Esses exames químicos e bacteriológicos não são capazes de aferir, com segurança, o teor da presença de metais pesados”, explicou o promotor. 

TEMOR DA POPULAÇÃO

O presidente da Comissão de Representação da Assembleia Legislativa, deputado Josias Da Vitória (PDT), criticou a pressa da prefeitura de Colatina na captação da água do rio Doce. “Não entendemos porque a administração de Colatina entrou na Justiça para captar a água do rio Doce, numa pressa que pode colocar em risco a saúde da população”. 

O deputado acrescentou que, conforme explicaram os especialistas no assunto, o rejeito da barragem da Samarco é composto de materiais que não têm pesos uniformes. “Alguns deles já desceram até Colatina, outros podem não ter descido. Um exame laboratorial de hoje pode não ser o mesmo de amanhã”. 

Os biólogos presentes no encontro explicaram que é “temerário” liberar água para captação fazendo apenas testes em alguns pontos do rio Doce, pois a presença de elementos químicos pode se alterar ao longo de todo o manancial até que haja um tempo suficiente para que a sua distribuição se estabilize. A própria chuva pode fazer emergir elementos mais pesados que se encontrem no fundo do Rio. 

“Há um temor da população e dos próprios especialistas em fazer uso dessa água por enquanto, porque então nos precipitar? Não vamos permitir a saúde da população colocada em risco”, alertou Da Vitória. 

AÇÃO CONTRA A SAMARCO

Da Vitória afirmou que se a Samarco tivesse cumprido os  acordos firmados com o Ministério Público do ES, de MG, e Federal, não estaria havendo tanto transtorno na distribuição de água mineral para a população de Colatina. “Esses acordos envolvem a construção de adutoras para retirarmos água das lagoas do Limão e do Batista, que ficam há cerca de 25 quilômetros do centro da cidade. Precisamos dessa água para que o povo não fique desassistido até que possamos captar com segurança a água do rio Doce”. O deputado lembrou que a Ales já acionou judicialmente a Samarco por não ter providenciado a construção das adutoras. 

O deputado estadual Dary Pagung (PRP), que também integra a Comissão de Representação da Ales, advertiu que não se pode permitir de forma alguma que haja captação dessa água até que especialistas apontem, com transparência e segurança, as condições para o consumo de todos. “A Assembleia Legislativa está atenta e não vai permitir isso”.   

A advogada e doutora em Oceanografia Ambiental, Stella Emery Santana, representante da OAB/ES no encontro, sugeriu que as entidades presentes formem um grupo de trabalho para auxiliar o Ministério Público com informações necessárias no enfrentamento da questão do desastre ambiental. Os conselhos regionais de Biologia e de Engenharia, além da OAB e da Defensoria Pública anunciaram uma soma de forças nesse apoio ao MPES. A Comissão Representativa da Ales reforçou o compromisso de mediar as negociações com o Poder Público. 
 FOTO: WANDERLEY ARAÚJO/ALES
Reunião que aconteceu nesta quinta-feira (26), em Colatina. Moradores estão recebendo água do rio Doce em suas residências
Wanderley Araújo/ Ales
al.es.gov.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário