O Plenário da Câmara dos Deputados rejeitou nesta terça-feira o
principal ponto da reforma política (PEC 182/07) proposto pelo deputado
Rodrigo Maia (DEM-RJ): o chamado “distritão”, modelo em que os deputados
e vereadores seriam eleitos apenas de acordo com a quantidade de votos
recebidos, no sistema majoritário. A proposta foi rejeitada por 267
votos a 210 e 5 abstenções.
A Câmara manteve o modelo atual, com sistema proporcional, que leva
em conta os votos recebidos individualmente pelos candidatos de um
partido e os recebidos pela legenda. Esses votos são usados para um
cálculo de quantas vagas cada partido consegue preencher. Outras
mudanças nesse sistema – como a cláusula de barreira e mudanças nas
coligações – poderão ser discutidas nesta quarta-feira, quando o
Plenário vai retomar a discussão da reforma.
Os deputados também rejeitaram, por 402 votos a 21 e duas abstenções,
o sistema de votação em listas fechadas, que previa a distribuição das
vagas de acordo com listas pré-ordenadas. O sistema distrital misto – em
que metade das vagas seria preenchida por lista e a outra metade pelo
voto majoritário em distritos – também foi rejeitada pelo Plenário por
369 votos a 99 e 2 abstenções.
Antes de encerrar a votação, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha,
ressaltou que manteve "rigorosamente" a promessa de votar a reforma
política em Plenário, permitindo que os deputados votem todos os modelos
propostos. Segundo ele, os deputados terão de arcar com o resultado das
votações. "Não aprovar nenhum modelo significa votar o modelo de hoje,
uma decisão que a Casa tem de assumir a responsabilidade", disse.
INTENSO DEBATE
O distritão foi alvo de intenso debate até mesmo durante a votação dos outros modelos. Deputados contrários chegaram a empunhar cartazes explicando os motivos pelos quais votaram contra o modelo: excesso de personalismo, diminuição da força dos partidos, entre outros. Para os favoráveis, o distritão é um modelo simples de ser entendido e capaz de diminuir a pulverização de votos que levou ao Parlamento 28 partidos e baratear as campanhas com menos deputados.
O relator da matéria, deputado Rodrigo Maia, responsabilizou o PT
pela derrota. “O PT mobilizou uma parte da sua base, virou votos da
semana passada para essa e provou que não quer mudar nada”, disse.
O líder do PMDB, deputado Leonardo Picciani (RJ), outro partidário do
distritão, também lamentou a derrota. “A decisão da maioria foi de não
promover mudança no sistema eleitoral. O PMDB cumpriu o seu papel e
defendeu a mudança do sistema”, disse.
O partido, no entanto, contou com dissidências. O deputado Marcelo
Castro (PMDB-PI), que foi relator da comissão especial da reforma
política e teve o parecer preterido por decisão dos líderes, chegou a
distribuir um panfleto aos deputados denunciando falhas do distritão.
Quem comemorou o resultado foi o deputado Henrique Fontana (PT-RS).
“Derrotamos o que era o grande risco de retrocesso para a democracia do
País, que era o distritão, um sistema que seria o paraíso do abuso do
poder econômico e o fim dos partidos”, disse.
ARGUMENTOS
O líder do PR, deputado Maurício Quintella Lessa (PR-AL), chamou o "distritão" de "canto da sereia". "Em princípio, parece um sistema que prega a simplicidade, mas é o sistema que personifica a eleição e fragiliza os partidos e ideias. Cada deputado seria um partido político", disse ele, afirmando que o modelo de eleger os mais votados inviabiliza as minorias.
Para o deputado Vinicius Carvalho (PRB-SP), o distritão não atenderia
aos que foram às ruas desde 2013 pedindo mudanças nos rumos do governo.
"No Japão, chegou-se à conclusão de que o distritão favorecia a disputa
individualizada, a disputa entre os parlamentares e estimulava também
os casos de corrupção e caixa dois. É isso que nós queremos dar como
resposta ao clamor das ruas?", questionou.
O líder do Psol, deputado Chico Alencar (RJ) também avaliou que o
voto majoritário fortalece o personalismo e iria piorar a política.
"Aprovar esse sistema majoritário individualista, que mata a ideia de
solidariedade partidária, é colocar no alto do trono da política
brasileira o cada um por si, a campanha rica, o partido como um mero
carimbador", criticou.
Para o deputado Miro Teixeira (Pros-RJ), no entanto, não haveria
problema em aumentar o personalismo. Ele defendeu a aprovação do
“distritão”. "Sejamos individualidades, nós representamos o povo, não
temos de ser usados como cabos eleitorais de luxo ou para cumprir ordens
dos donos da política", avaliou.
O líder do DEM, deputado Mendonça Filho (PE), argumentou que o
distritão poderia ser a solução para o excesso de partidos. "Este
Parlamento, do ponto de vista partidário, está uma verdadeira zorra, são
28 partidos com assento, recorde mundial", disse. Hoje, segundo ele, os
aspirantes a candidato já buscam partidos não pela ideologia, mas pela
facilidade de se eleger. "Esse é o mundo real, não adianta aula de
cientista político", ressaltou.
Reportagem – Carol Siqueira e Eduardo Piovesan
Edição – Pierre Triboli
Edição – Pierre Triboli
Agência Câmara Notícias
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