NERTER SAMORA / SÉCULO DIÁRIO
O Ministério Público Estadual (MPES) e de Contas (MPC) denunciaram a
existência de irregularidades nas obras de reforma do Hospital Central
(antigo Hospital São José), inaugurado em dezembro de 2009 – na gestão
do ex-governador Paulo Hartung (PMDB). Na representação, os
representantes dos dois órgãos ministeriais pedem que o Tribunal de
Contas do Estado (TCE) apure o dano ao erário causado por sucessivos
erros de projetos, que resultaram em diversos aditivos ao contrato e uma
nova contratação emergencial.
Para os dois órgãos, o então secretário de Saúde, Anselmo Tozi (na foto
abaixo ao lado do ex-governador na inauguração do hospital, no dia 15
de dezembro de 2009), praticou ato de gestão antieconômica. A denúncia
também faz referência à ex-diretora-geral do Instituto de Obras Públicas
do Estado (Iopes), Marilza Barbosa Prado Lopes, o ex-presidente da
comissão licitante do Iopes, Luiz de Gonzaga Calil. A estimativa é de
que os gastos com a obra ultrapassaram R$ 22 milhões.
Na denúncia, os representantes do MPES e MPC apontam que a empresa
Tomazelli Engenharia Comércio e Planejamento Ltda foi contratada pela
Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) de forma emergencial, sem
licitação, para realizar as obras do hospital, em abril de 2006. Na
ocasião, o contrato tinha duração de 180 dias e o valor estimado em R$
6,28 milhões.
A empresa iniciou os serviços em maio de 2006 e, de acordo com a
representação, o contrato foi interrompido após ter sido pago mais de R$
6 milhões, “em razão de dificuldades na conclusão das obras,
desencadeadas pela ausência de um projeto adequado”. Em setembro do ano
seguinte, a Tomazelli acabou saindo vencedora de uma licitação aberta
pelo Iopes com o mesmo objeto. O valor do novo contrato foi de R$ 6,81
milhões, sendo que na fase de execução das obras o projeto foi apontado
como “totalmente inexequível”, provocando novas mudanças no projeto
original.
Entre os exemplos citados na representação está a construção de um
anexo que, inicialmente, tinha a previsão de dois pavimentos, mas que
passou a ter oito. Em função das mudanças, o governo estadual realizou
uma série de aditivos no contrato com a empresa, que acabaram
prorrogando o prazo de entrega do hospital – que foi para janeiro de
2009 – e elevou o custo do acordo para R$ 9 milhões.
Segundo a representação, a Tomazelli recebeu o pagamento de R$
6.684.024,19 pela execução de 68,89% do contrato. Em dezembro de 2008, a
então diretora-geral do Iopes enviou ofício ao então secretário
estadual da Saúde, Anselmo Tozi, propondo a rescisão do contrato com a
Tomazelli. Ela alegou que a empresa não estava cumprindo o cronograma
das obras. A diretora do Iopes sugeriu a contratação de outra empresa,
por dispensa de licitação, para concluir as obras.
Após expedição de convites pelo Iopes a três empresas, em janeiro de
2009, a Construtora Norberto Odebrecht foi contratada emergencialmente
para a conclusão das obras do Hospital Central pelo valor de R$
6.345.088,58. Os órgãos ministeriais afirmam que o Iopes ignorou a
determinação da Auditoria-Geral do Estado (hoje Secretaria de Controle e
Transparência) para pesquisar preços, tendo em vista que “os preços
obtidos por meio de orçamentos e do contrato anterior podem ter
divergências em relação aos preços de mercado”.
De acordo com informações do MPC, a representação cita informações
obtidas em inquérito civil instaurado pelo MPES, entre as quais a de que
o valor contratado emergencialmente com a Norberto Odebrecht “foi
majorado (superfaturado) em mais de 40%”. O documento destaca ainda que
no site da construtora há registro de que ela recebeu R$ 9,4 milhões
pelos serviços prestados na reforma do Hospital Central.
Com isso, os órgãos ministeriais concluem que o gasto de mais de R$ 22
milhões para a realização das obras de reforma do Hospital Central, “com
os sucessivos erros de projetos, tanto por parte da Sesa quanto por
parte do Iopes – além dos R$ 4 milhões utilizados para desapropriação do
prédio –, configura ato de gestão antieconômico que resultou em dano ao
erário”.
O MPC e o MPES pedem que sejam requisitados à Secretaria de Estado da
Saúde e ao Iopes toda a documentação relativa aos contratos firmados
para reforma do Hospital Central e, em seguida, a representação seja
enviada à área técnica do Tribunal de Contas para apuração do dano ao
erário resultante dos atos dos gestores e dessas contratações.
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