NILO TARDIN
Caçadores de tesouros já vasculharam cada palmo de
cavernas e grotas em busca de desvendar a lenda de um pequeno Bezerro de Ouro
escondido no coração dos belos picos rochosos dos Pontões Capixabas, em Pancas.
O Bezerro de Ouro nunca foi encontrado. Mas a fama da reluzente
preciosidade embalou o sonho de riqueza de uma geração de moradores que vivem
aos pés das Pedras do Camelo, Cará e Garrafão. É nessa parte do mar de
montanhas que formam o Monumento Natural dos Pontões Capixabas – unidade de
conservação federal criada em 2008-, que a peça de ouro maciço com 1,5 kg
pode ter sido enterrada há mais de 100 anos. Nascido e criado aos pés da Pedra
do Garrafão, agricultor pomerano Juliberto Stuhr, 63 anos confirma que o mito
do bezerro de ouro era narrado por sua avó Alvina na sala de visitas a luz da
lamparina. “Ela contava que padres jesuítas fugitivos de uma revolta
indígena no litoral escaparam com a escultura de ouro puro. Perseguidos no
caminho de fuga enterraram a relíquia em algum lugar do Vale do Palmital e São
Luiz. Nem sinal dela até hoje. Vejo a história como uma herança cultural da
colonização pomerana em Pancas”, diz Juliberto. O cafeicultor Cláudio Eggert,
52 anos morador do Córrego do Palmital revela também que cansou de ouvir dos
mais antigos a lenda do bezerro de ouro que além de valioso era encantado. Lembra
que corajosos aventureiros entre os quais o pioneiro Franz Ohnersorge nos anos
de 1930 se arriscou a subir os 750 metros da Pedra do Garrafão atrás do bezerro
ouro, porém uma súbita ventania o prendeu por dois dias na caverna existente no
topo da montanha. “Franz era um famoso matador de onça da região. Escalou o
Garrafão sem equipamento nenhum. Chegou até o primeiro dos dois salões da
pedra. Saiu depois de dois dias enrolando cipós até fazer uma corda. Meu avô
falava que quando alguém estava perto de achar bezerro de ouro alguma coisa de
sobrenatural acontecia”, recorda Eggert. Na conta dele caso a imagem fosse real
e achada valeria na faixa R$ 200 mil com o ouro em alta. De acordo com
empresário Wilson Haese, 66 anos aos poucos o bezerro de ouro foi sendo
esquecido, mas a descoberta na década de 60 de duas gemas gigantes de águas
marinhas com 25 kg cada – batizadas de Marta Rocha e Xuxa - na Pedra Agulha
ainda atrai garimpeiros a Pancas atrás de fortuna.
AMOR PROIBIDO
PROVA DA PAIXÃO
“Se o amor fizesse milagres e lágrimas
ressuscitassem mortos, certamente tu não estarias aqui coberta pela terra
fria”. A inscrição na placa de cobre traduzida do pomerano para o português foi
posta no túmulo de Olga Johanna após sua morte em 1928 como prova do
‘amor proibido’ de Bernardo Lehnen. “Na época foi um escândalo
gostar mesmo de longe de uma mulher casada. A placa foi arrancada da sepultura.
Depois reposta pelo pastor três décadas ”, contou Nair Sthur.
COLONIZAÇÃO POMERANA EM PANCAS PERTO DE COMPLETAR 100 ANOS
Os corpos do caçador Franz Ohnersorge - o primeiro
a procurar o bezerro ouro - assim como outros desbravadores pomeranos do Vale
do Palmital estão sepultados no Cemitério Evangélico Luterano de São Bento, um
dos mais antigos no norte do Estado. Aberto em 1925 conforme Livro de Registro
guardado pela presidente da Associação do Cemitério Luterano, Nair Stuhr, 57
anos, os documentos provam que antes os mortos eram enterrados numa clareira
aberta no meio da mata no ano de 1918. Segundo informações de Nair Stuhr as
velhas e amareladas certidões de óbito lavradas a pico de pena atestam que a
colonização pomerana em Pancas está bem perto de completar 100 anos. “Naquela
época morria muita criança devido a febres e isolamento. Os pomeranos que
vieram para Pancas eram de outros municípios do Espírito Santo como Santa Maria
do Jetibá, Santa Teresa e Minas Gerais. Enfrentaram índios e animais selvagens.
Inclusive o primeiro sepultamento oficial foi de uma criança em 1925”, contou. Outros
meninos e meninas foram enterrados depois. Pelos registros em 31 de janeiro de
1928 foi sepultado o primeiro adulto Olga Johanna Ohnesorge mulher do pioneiro
Friedrich Ohnersorge, destaca Nair Stuhr. Entre lendas, tesouros e mistérios,
um caso de amor impossível também é relatado em uma placa de cobre com
inscrições em pomerano. A lápide foi colocada no túmulo de Olga na calada
da noite por ‘um admirador secreto que havia se apaixonado pela mulher
durante a viagem para Pancas. “Na época foi escândalo. A chapa foi retirada a
força. Ficaram 30 anos esquecida na capela. Há cerca de 10 anos um pastor
luterano a colocou novamente na sepultura para que a história não fosse
apagada”, disse Nair.
ÁREA DE FLORESTA AUMENTA NOS PONTÕES CAPIXABA,
CONSTATA O INCAPER
A criação do Parque Nacional dos Pontões Capixabas
no apagar das luzes de dezembro de 2002 quase provoca uma verdadeira guerra
entre sitiantes e o governo federal nos municípios de Pancas e Águia Branca
noroeste do Espírito Santo. Ameaçados de despejo- por lei parques florestais
não pode ter morador, os produtores rurais cogitaram reagir armados para manter
a ocupação dos 17.496 hectares da área protegida. A mudança de modalidade para
Monumento Natural dos Pontões Capixabas em junho de 2008 apaziguou os ânimos,
além preservar os picos rochosos da fúria das mineradoras. A rara beleza das
montanhas a variedade de orquídeas, bromélias e árvores nativas como ipês,
peroba e jacarandá encantou o paisagista Burle Max. Ele considerou os Pontões
Capixabas como o lugar mais bonito do planeta em seus escritos. Dados do
Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural (Incaper) de Pancas apontam que
após o decreto conservacionista a cobertura verde aumentou, mas o estragado da
devastação na mata atlântica original afetou as nascentes dos rios e córregos
da região assolada pela estiagem prolongada. “Os rios secaram. Os produtores
rurais estão sem irrigar lavouras por força de norma estadual. Estamos
decretando emergência de seca pelo segundo ano consecutivo. "É essencial
que a natureza dos Pontões Capixabas seja conservada porque ali que
é estão às cabeceiras dos rios que abastecem o município”, frisou o prefeito de
Pancas, Agmair Araújo, o Guima (PRP).
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