Por TITINA CARDOSO/ALES
Plenário e galeria bastante divididos nesta quarta-feira (16) em que foi
 discutido o projeto que proibia “ideologia de gênero” nas escolas. A 
matéria que tramitava em regime de urgência recebeu parecer pela 
inconstitucionalidade na Comissão de Justiça. Em plenário, o parecer foi
 à votação nominal e, por 13 votos a 11, o projeto de Vandinho Leite 
(PSDB) foi arquivado e encerrou sua tramitação na Casa.
Trata-se do Projeto de Lei (PL) 10/2019 que proibia a ideologia de 
gênero no sistema educacional do Estado. A matéria diz que “não é 
permitido ao Poder Público envolver-se no processo de amadurecimento 
sexual dos alunos” e vedava “qualquer prática capaz de comprometer, 
direcionar ou desviar o natural desenvolvimento de sua personalidade, em
 harmonia com a respectiva identidade biológica do sexo”.
O PL estendia suas determinações às políticas e planos educacionais, aos
 conteúdos curriculares, aos projetos pedagógicos, aos materiais 
didáticos e paradidáticos, aos temas transversais, às orientações, 
diretrizes e metas e a quaisquer outros métodos que abordem o tema.
Votaram pelo arquivamento da matéria: Dary Pagung (PSB), Doutor Hércules
 (MDB), Dr. Emilio Mameri (PSDB), Enivaldo dos Anjos (PSD), Freitas 
(PSB), Iriny Lopes (PT), Janete de Sá (PMN), José Esmeraldo (MDB), 
Luciano Machado (PV), Marcelo Santos (PDT), Raquel Lessa (Pros), Renzo 
Vasconcelos (PP) e Sergio Majeski (PSB).
Votaram pela continuidade da tramitação: Alexandre Xambinho (Rede), 
Capitão Assumção (PSL), Carlos Von (Avante), Danilo Bahiense (PSL), 
Gandini (Cidadania), Hudson Leal (Republicanos), Lorenzo Pazolini (PSL),
 Pastor Marcos Mansur (PSDB), Dr. Rafael Favatto (Patriota), Torino 
Marques (PSL) e Vandinho Leite (PSDB).
A discussão da matéria foi acompanhada pela sociedade civil. De um lado 
da galeria, os apoiadores carregavam bandeiras do Brasil e do Espírito 
Santo e cartazes em defesa da família e contra a doutrinação nas 
escolas. Do outro lado, manifestantes empunhavam cartazes com dizeres 
como “não à nova lei da mordaça”, “democracia e diversidade” e “escola é
 espaço democrático – gênero se discute sim”.
ENTENDA A TRAMITAÇÃO
Quando foi apresentado à Assembleia em fevereiro deste ano, o projeto 
recebeu despacho denegatório da presidência da Casa, que alegou que o 
tema da matéria era de prerrogativa privativa do governador do Estado. 
Na ocasião, o autor recorreu da decisão. Na Comissão de Justiça, os 
parlamentares decidiram pela continuidade da tramitação.
Na última segunda-feira (14), o deputado Vandinho Leite conseguiu o 
apoio da maioria dos colegas para que a matéria tramitasse em regime de 
urgência. A matéria receberia, então, os pareceres orais das comissões 
de Justiça, Cidadania, Educação e Finanças.
Nesta quarta (16), o relator do projeto na Comissão de Justiça, deputado
 Freitas (PSB), proferiu seu parecer pela inconstitucionalidade da 
proposição. Freitas alegou que o projeto fere a Constituição Estadual. 
Freitas defendeu, ainda, que o Espírito Santo já conta com o Plano 
Estadual de Educação (Lei 10.382/2015), que reúne metas e políticas 
educacionais para o decênio 2015-2025.
Na votação na Comissão de Justiça, também houve divisão entre os 
parlamentares. Por 4 votos a 3, o relatório pela inconstitucionalidade 
foi aprovado. Votaram a favor do parecer: Freitas (PSB), Iriny Lopes 
(PT), Janete de Sá (PMN) e Marcelo Santos (PDT). Votaram contrários ao 
relatório: Gandini (Cidadania), Rafael Favatto (Patriota) e Vandinho 
Leite (PSDB).
O parecer da Comissão de Justiça foi, então, à votação pelo Plenário. Se
 o parecer fosse aprovado, a matéria seria arquivada. Se rejeitado, o 
projeto continuaria tramitando. O autor da proposta pediu a votação 
nominal. E, em votação bastante apertada, o PL acabou sendo arquivado.
DEBATE
Parlamentares contra e a favor da medida se revezaram na tribuna e nos 
microfones de aparte para defenderem seus pontos de vista. O debate foi 
acalorado, com acusações contra o governador Renato Casagrande (PSB) e 
contra o autor da matéria, Vandinho Leite (PSDB).
O tucano acusou Casagrande de interferir na votação. Para ele, se o 
Executivo não tivesse “cooptado” os parlamentares da base governista, a 
matéria teria sido aprovada. Já o líder do governo, Enivaldo dos Anjos 
(PSD), acusou Vandinho de estar utilizando o projeto para fins 
eleitorais.
Para o deputado Lorenzo Pazolini (sem partido), a matéria não seria 
inconstitucional, porque, segundo ele, compete tanto ao Legislativo 
quanto ao Executivo legislar sobre educação.
Já o deputado Capitão Assumção (PSL), no calor da defesa do projeto, 
acabou ofendendo parte das pessoas que acompanhavam a discussão. Ele 
disse que se jogasse carteiras de trabalho nas galerias, apenas os 
defensores do projeto iriam querer, deixando a entender que as pessoas 
contra a matéria não gostam de trabalhar.
Os deputados Sergio Majeski (PSB) e Iriny Lopes (PT) foram alguns dos 
que se manifestaram contra a proposta. “A ideia de que na escola há 
professores doutrinando alunos é estapafúrdia, doentia e de quem não 
conhece a rotina escolar. Do jeito que as pessoas dizem, é como se os 
professores fossem uma ameaça para as crianças e adolescentes”, comentou
 Majeski.
Já Iriny discursou: “Os avanços conquistados pela diversidade criaram um fake
 chamado ‘ideologia de gênero’. Apesar de o Estado ser laico, no Brasil 
sempre se mistura tudo. O que tentam imputar aos professores é uma 
agressão, como se esses profissionais fossem pessoas que têm dentro de 
si e no exercício de sua função o interesse de burlar a Constituição e 
manipular os seus alunos. Estamos criando dentro das escolas a ideia de 
que os professores são inimigos dos alunos e da família”, opinou.
    FOTO:TATI BELING/ALES
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| Plenário da Assembleia Legislativa na sessão desta quarta-feira (16). O projeto de lei do deputado Vandinho Leite (PSDB) causou polêmica na Casa de Leis | 
 
 
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