O Ministério Público Federal no Espírito Santo
(MPF/ES) denunciou os donos da Telexfree, Carlos Nataniel Wanzeler e Carlos
Roberto Costa, pelos crimes de evasão de divisas e lavagem de dinheiro devido a
operações de câmbio ilícitas, realizadas por meio de um esquema voltado à
remessa de valores entre Brasil e Estados Unidos, efetivadas por um sistema de
compensações financeiras conhecidas como dólar-cabo. As 259 operações foram
realizadas entre 14 de maio de 2012 e 23 de maio de 2013 e movimentaram R$
5.041.887,94.
Além desse valor, também foram identificados US$
23.631,00 citados em diálogos dos envolvidos que não foram convertidos em
reais, mas igualmente remetidos ilegalmente para o Brasil. Os valores eram
provenientes das atividades criminosas da Telexfree.
Além dos sócios, também foram denunciados pelos
mesmos crimes Andreia Bianchi Moreira, funcionária do Grupo Telexfree nos
Estados Unidos, e a doleira Sandra Maria Teixeira Araújo.
Já pelo crime de evasão de divisas foram
denunciados Kátia Hélia Barbosa Wanzeler (esposa de Carlos Wanzeler), Danielle
Noronha Goés (funcionária da Telexfree no Estados Unidos), Marilza Machado
Wanzeler (mãe de Carlos Wanzeler), e Febe Vanzeler de Almeida e Souza (irmã de
Carlos Wanzeler).
ESQUEMA
O esquema teve início a partir do bloqueio da
contas da Ympactus Comercial e de seus sócios, determinado pela Justiça do
Acre, ocorrido em junho de 2013. A decisão judicial acarretou a suspensão das
atividades da empresa e o bloqueio de aproximadamente R$ 600 milhões.
A partir disso, em agosto de 2013, com o objetivo
de resolver as dificuldades financeiras pelas quais vinham passando as empresas
do grupo Telexfree no Brasil, Carlos Wanzeler procurou a doleira Sandra Araújo.
Ele, então, passou a disponibilizar valores em dólares nos Estados Unidos em
contas indicada por Sandra e, como contrapartida, a doleira providenciava a
transferência bancária em reais no Brasil para uma conta indicada por Wanzeler.
Em outras ocasiões, Sandra também disponibilizou
dinheiro em espécie para parentes de Wanzeler no Brasil. Portanto, no esquema a
Telexfree funcionava como um “banco de compensações”, sobretudo através da
figura de seu sócio Carlos Wanzeler.
EVASÃO DE DIVISAS
Em um primeiro momento, Wanzeler
obtinha disponibilidade financeira no exterior, concentrando operações de envio
de dólares para os EUA, para a empresa Telexfree. Num segundo momento, surgiu a
necessidade da disponibilidade financeira se efetivar no Brasil, num sistema
inverso de envio de divisas, novamente em benefício da Telexfree.
Segundo as investigações, auxiliaram Carlos
Wanzeler no esquema sua esposa Kátia Wanzeler, além das funcionária da
Telexfree Danielle Noronha e Andreia Bianchi. As três eram responsáveis
por receber valores em dólares nos Estado Unidos e também recebiam
demandas de remessas de valores.
No Brasil, Carlos Wanzeler recebeu auxílio de sua
mãe, Marilza Wanzeler, que efetuava transações bancárias indicadas pelo filho,
além de ser sócia, junto com Febe Vanzeler, da Worldxchange e, portanto,
responsáveis pela administração financeira da empresa, de modo que também
permitiram
que as operações de compensações financeiras fossem
efetivadas a partir da conta bancária da empresa.
Já Carlos Roberto Costa não participava diretamente
das operações de câmbio ilegais, mas permitia que fossem realizadas, sendo,
assim, beneficiado com o esquema de dólar-cabo operado por Carlos Wanzeler.
“Cabe relembrar que a administração da Telexfree
era dividida entre os dois países, Brasil e Estados Unidos, da seguinte forma:
no Brasil, onde funcionava a Ympactus Coemrcial, Carlos Costa estava
fisicamente à frente; nos Estados Unidos, onde funcionava a Telexfree Inc,
Carlos Wanzeler estava fisicamente à frente. Porém, ambos atuavam direta e
conjuntamente na administração, considerando que as decisões eram tomadas em
parceria, sobretudo através de discussões efetivadas por mensagens e
aplicativos que permitiam a comunicação entre ambos”, afirma a denúncia do
Ministério Público Federal.
DÓLAR-CABO
O esquema de dólar-cabo era comandado por
Carlos Wanzeler, em benefício do grupo Telexfree e funcionava da seguinte
maneira: pessoas interessadas em remeter dinheiro dos Estados Unidos para o
Brasil procuravam Wanzeler ou seus prepostos, que estabeleciam a cotação do
dólar frente ao real.
O intermediário ou o interessado em fazer a remessa
informava, por mensagem SMS, a quantia que seria remetida, a conta de destino
dos valores em reais no Brasil, o nome e o CPF do titular da conta. Os
representantes da Telexfree, então, faziam a transferência bancária em reais
utilizando as contas bancárias no Brasil da Ympactus Comercial, da Worldxchange
Intermediação e Negócios (empresas do grupo Telexfree) ou uma de suas contas
pessoais. Por fim, o próprio interessado em fazer a remessa entregava o correspondente
ao valor combinado em dólar a Carlos Wanzeler nos Estados Unidos.
O sistema dólar-cabo corresponde a um sistema
informal de transferência de valores entre países, à margem dos sistemas
financeiros legais, baseado, principalmente, na confiança dos executantes. Em
resumo, trata-se de uma remessa de valores sem efetivo movimento financeiro de
um país para outro.
Geralmente um “doleiro” - e no caso do esquema da
Telexfree se tratava de Sandra Maria Teixeira Araújo - substitui a instituição
financeira recebendo o dinheiro em espécie ou mediante depósito/transferência,
em reais, de seu cliente. Simultaneamente, o doleiro, dono de contas bancárias
mantidas fora do Brasil, entrega ao interessado, no exterior, o correspondente
na moeda local do que recebeu no Brasil. Caso não tenha disponibilidade
imediata do valor a ser entregue, o doleiro se vale de seus contatos de
confiança para realizar a operação.
A denúncia foi recebida no dia 10 de maio, pela 1ª
Vara Federal Criminal de Vitória. A Justiça determinou o desmembramento do
processo em relação à Andreia Bianchi Moreira, uma vez que ela reside nos
Estados Unidos. O número do processo para acompanhamento no site da Justiça
Federal (www.jfes.jus.br) é 0500562-93.2017.4.02.5001.
DENUNCIADOS:
- Evasão de divisas e lavagem de dinheiro
Carlos Nataniel Wanzeler (sócio da Telexfree)
Carlos Roberto Costa (sócio da Telexfree)
Andreia Bianchi Moreira(funcionária do Grupo
Telexfree nos Estados Unidos)
Sandra Maria Teixeira Araújo (doleira)
- Evasão de divisas
Kátia Hélia Barbosa Wanzeler (esposa de Carlos
Wanzeler)
Danielle Noronha Goés (funcionária da Telexfree no
Estados Unidos)
Marilza Machado Wanzeler (mãe de Carlos Wanzeler)
Febe Vanzeler de Almeida e Souza (irmã de Carlos
Wanzeler)
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